sábado, 7 de dezembro de 2013

O que Deus dirá de você?

Ao examinar as ocorrências da palavra grega martureo (nº 3140 no dicionário Strongs; significa “testificar”, “recomendar”), vemos que o Espírito Santo apresenta um retrato muito interessante de Deus testificando a respeito de Seus servos. Esta palavra é usada na Bíblia toda setenta e nove vezes; homens testificam de homens, Deus testifica de Seu Filho, etc. Mas somente três vezes ela é usada para falar de Deus testificando de algum ser humano. E nestas três ocorrências vemos o servo de Deus quanto ao passado, o presente e o porvir.

O passado (At 15:8) — aptidão

Quando Deus salvou os gentios na casa de Cornélio, Pedro disse que “Deus lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé”. Ao lhes dar o Espírito Santo, Deus reconhecia publicamente, perante o preconceito judaico, que os gentios estavam aptos a servir ao Deus de Israel.

Sendo salvo, posso olhar para trás, para o dia da conversão, e agradecer a Deus por ter me dado o direito e a aptidão necessários para servi-lO. De servo do pecado, fui transformado em servo de Deus, e agora estou apto a servir ao Senhor.

O presente (At 13:22) — aspiração

Depois de Saul, o homem segundo coração do povo, Deus apresentou o Seu rei, o homem segundo o Seu coração, Davi, e “deu testemunho, e disse: Achei a Davi, … que executará toda a Minha vontade”. Ao escolher Davi, Deus declarou publicamente que este homem tinha o desejo sincero de fazer toda a vontade de Deus. Ele não era perfeito (o relato da Bíblia deixa isto bem claro), mas o anelo da sua alma, o anseio do seu coração e a aspiração deste servo era fazer toda a vontade de Deus.

Tenho o direito de servir a Deus: será que tenho, como Davi, o desejo?

O porvir (Hb 11:4) — aprovação

Depois que Abel morreu, Deus inspirou o escritor da epístola aos Hebreus a registrar o testemunho de Deus quanto aos dons de Abel (isto é, quanto àquilo que Abel ofereceu a Deus). Abel morreu, mas depois de morto, ele ainda fala. Deus publicamente testificou que o sacrifício de Abel, fruto da sua fé, foi aprovado e recebido por Ele.

Um dia o Senhor irá avaliar o meu serviço também. Ele, que me deu o direito de servi-lO, que sabe se tenho ou não o desejo de servi-lO, Ele irá dizer se tive ou não discernimento ao servi-lO. Ele provará o serviço que fiz para Ele pelo fogo da Sua Palavra (I Co 3:10-15); qual será o resultado?

Ele me fez apto para este serviço; Ele é a inspiração para a minha fraca aspiração; que Ele possa aprovar o meu e o seu serviço naquele dia, dando testemunho dos nossos dons.

© W. J. Watterson

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Homem de guerra e homem de repouso

Davi e seu filho Salomão são descritos na Palavra de Deus de duas formas bem diferentes: alguém disse de Davi que ele era “valente e vigoroso, e homem de guerra” (I Sm 16:18), enquanto que o próprio Senhor disse a Davi, acerca de Salomão: “Eis que o filho que te nascer será homem de repouso; porque repouso lhe hei de dar de todos os seus inimigos ao redor” (I Cr 22:9). Nestes dois temos um retrato do nosso Senhor Jesus Cristo em duas épocas: no final da Tribulação (Davi) e no Milênio (Salomão).

Davi, o homem de guerra que livrou Israel de todos os seus inimigos, nos lembra do Senhor Jesus como aquele que, “na cruz … despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo” (Cl 2:14-15). No final da Tribulação, lemos dEle: “… julga e peleja com justiça … E da Sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações” (Ap 19:11-16).

Salomão, o sucessor de Davi, homem de repouso, ao qual Deus deu um reino que não foi atacado, mas onde a paz e a justiça prosperaram, nos lembra do Senhor Jesus e o reino de paz e descanso que Ele trará à Terra durante o milênio, quando “o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre. E o Meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso” (Is 32:17-18).

Tendo sido libertados dos nossos inimigos pelo maior Homem de guerra, esperamos um reino de paz e repouso sob o governo do maior Homem de repouso. A Ele seja toda a glória!

© W. J. Watterson

sábado, 5 de outubro de 2013

A Divindade do Filho

O texto abaixo é o segundo capítulo do livro gratuito “A Glória do Filho”, publicado pela Editora Sã Doutrina.

Cap 2 — A deidade da Sua Pessoa

Por John M. Riddle, Inglaterra


O que pensais vós de Cristo é a prova
Que testa vosso estado e intenção;
Em tudo o mais não tereis razão
Tendo dEle equivocada compreensão.
(John Newton) 

Introdução
“E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que O enviou” (Jo 5:22-23).

Em resposta à Sua pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” os discípulos responderam: “Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros Jeremias, ou algum dos profetas”. Em resposta à Sua próxima pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Simão Pedro replicou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:13-16). Mas isso não é tudo. Um pouco mais tarde, tendo ouvido o que os homens tinham a dizer sobre Ele, e tendo ouvido o que Pedro tinha a dizer sobre Ele, Deus mesmo declara: “Este é o Meu amado Filho em quem Me comprazo” (Mt 17:5).

Mas havia incredulidade naquele tempo, como agora; a incredulidade moderna não é nova. Ele não foi reconhecido por muitos e teve que dizer para a mulher samaritana: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz, Dá-me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (Jo 4:10). Seus próprios conterrâneos disseram: “De onde veio a Este a sabedoria e estas maravilhas? Não é Este o filho do carpinteiro? E não se chama Sua mãe Maria, e Seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as Suas irmãs? De onde Lhe veio, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nEle” (Mt 13:54-57). Até mesmo da Sua família foi dito: “nem mesmo seus irmãos criam nEle” (Jo 7:5) As autoridades religiosas foram além: “Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é” (Jo 9:29). O seu sarcasmo é sutilmente velado. João resume tudo em duas frases: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu e os seus não O receberam” (Jo 1:10-11).

Foi por causa desta incredulidade e falsa doutrina que dois livros do Novo Testamento foram escritos: o Evangelho de João e a I Epístola de João. O apóstolo afirma isto categoricamente perto do final do seu Evangelho: “Jesus, pois, operou também em presença de Seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome” (Jo 20:30-31). Devemos notar que a segurança eterna do cristão se baseia na Divindade de Cristo. Alguém disse que “um Salvador que não é absolutamente Deus é como uma ponte quebrada bem no final”! Uma afirmação semelhante ocorre na primeira Epístola de João: “Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna” (5:13). A Epístola conclui com outra afirmação categórica: “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus [Ele é o verdadeiro Deus, JND] e a vida eterna” (5:20).

O Evangelho de João foi escrito para dar o conhecimento da salvação: “para que creiais … e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome”. A primeira epístola de João foi escrita para dar a segurança da salvação: “para que saibais que tendes a vida eterna, vós os que credes”. Tanto o conhecimento da salvação quanto a segurança da salvação são garantidas porque o Salvador é o Filho de Deus.

O ensino do Velho Testamento

A deidade de Cristo é ensinada consistentemente através das Escrituras, tanto no Velho como no Novo Testamento. No que diz respeito ao Velho Testamento, destacamos o seguinte:

Salmo 45:6-7

Falando do Rei, está escrito:

“O Teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do Teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, o Teu Deus Te ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros.”

Esta é uma afirmação muito importante em relação à Sua deidade. Trata-se de uma Pessoa Divina dirigindo-Se à outra: “O Teu trono, ó Deus” — aquele a quem as palavras são dirigidas é Deus. Veja o v. 7: “por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu” — aquele que fala é Deus. Isto é confirmado no Novo Testamento: “Mas do Filho diz: Ó Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos dos séculos …” (Hb 1:8-9).

Salmo 110:1

“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-Te à Minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés”.

O Hebraico, traduzido literalmente, diz: “O oráculo de Jeová ao meu Senhor.” Isto faz das próximas palavras uma mensagem direta de Deus para o Seu Rei. É um oráculo de Jeová — o Deus fiel do concerto, o Deus imutável. Aqui, o Senhor Jesus é chamado de Adonai, que significa “Soberano Senhor, Mestre, Possuidor, Proprietário” (Newberry). Também devemos notar Mateus 22:45: “Se Davi, pois, Lhe chama Senhor, como é Seu Filho?”

O Salmo registra a acolhida Divina gozada pelo Senhor Jesus na Sua ascensão: “Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-Te à minha direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés. Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:34-36). O escritor aos Hebreus pergunta: “E a qual dos anjos disse jamais, Assenta-Te à minha destra, até que ponha a Teus inimigos por escabelo de Teus pés?” (Hb 1:13).

Isaías 7:13-14

“Ouvi agora, ó casa de Davi … Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e chamará o Seu nome Emanuel”.

O Novo Testamento estabelece com absoluta clareza o significado desta profecia: “Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e chamá-Lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco” (Mt 1:22-23). Esta é uma afirmação categórica: “para que se cumprisse”. Não, como em outros casos: “e outra vez diz a Escritura” (Jo 19:37), que indica a aplicação de uma passagem do Velho Testamento, em vez da sua interpretação e cumprimento. As palavras “chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel” explicam a razão da maneira da Sua concepção. E. J. Young, no seu livro The Book of Isaiah (O Livro de Isaías) cita João Calvino: “Calvino acertadamente sustenta que o nome não pode ser aplicado a alguém que não é Deus. Nenhum outro no Velho Testamento leva este nome. Por estas razões, a profecia precisa ser interpretada somente em relação àquele a quem estas condições se aplicam, isto é, Jesus Cristo, o Filho da Virgem e o Deus Forte”. “Emanuel”, que transmite a Sua divindade absoluta, junto com o da Sua humanidade perfeita, é uma descrição da Sua identidade, mais do que um nome pelo qual Ele foi conhecido na Terra.

Isaías 9:6

“Porque um menino nos nasceu, um Filho Se nos deu, e o principado está sobre os Seus ombros, e se chamará o Seu nome: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”

O título “Deus Forte” enfatiza Sua deidade e, portanto, Seu poder. O trono de Davi parecia especialmente vulnerável quando Acaz reinava sobre Judá, e depois desapareceu totalmente. O último Reivindicador foi coroado com espinhos! Mas este trono será ocupado no final pelo “Deus Forte”! Davi era um rei poderoso, e o Senhor lhe deu “descanso de todos os seus inimigos em redor” (II Sm 7:1). Mas quem pode se comparar com o Rei final, de quem é dito: “Eis que reinará um rei com justiça” (Is 32:1)? “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés” (I Co 15:25).

Isaías 40:3, 9

“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo a vereda a nosso Deus … Tu ó Sião, que anuncias boas novas, sobe a um monte alto. Tu, ó Jerusalém, que anuncias boas novas, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus”. 

Isto se refere, inicialmente, à pregação de João Batista: “Este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas” (Mt 3:3).

Quando Isaías declara: “Aqui está o vosso Deus”, ele usa a palavra Elohim para Deus. Isto deve ser comparado com: “Preparai o caminho do Senhor [Jeová], endireitai no ermo uma vereda a nosso Deus [Elohim]”, e “naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus [Elohim] a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor [Jeová], a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos” (Is 25:9). Estas passagens enfatizam a deidade do Senhor Jesus, de quem João Batista disse: “Eu na verdade batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas” (Lc 3:16). 

Zacarias 13:7

“Ó espada, desperta-te contra o Meu Pastor, e contra o homem que é o Meu companheiro, diz o Senhor dos exércitos. Fere ao Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas”.

Isto enfatiza a Sua deidade: “O homem que é o Meu companheiro”. A palavra “homem” aqui significa “um homem forte”. A palavra “companheiro” tem diversas traduções: “o homem da Minha união”; “um homem coigual Comigo”; “o homem Meu igual”. É preciso dizer mais? Ele é o Divino Pastor. Ele é igual a Deus. Ele mesmo disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30).

Malaquias 3:1

“Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim, e de repente virá ao Seu templo o Senhor [Adonai], a quem vós buscais …”.

Este versículo enfatiza claramente a deidade do Senhor Jesus. Ele é o “Deus do juízo”, que diz: “Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim”. João Batista, “Meu mensageiro”, preparou o caminho para o Senhor Jesus que é, portanto, ninguém menos que o Próprio Deus. Isto é confirmado pela segunda afirmação: “… virá ao Seu templo o Senhor [Adonai], a quem vós buscais”. Este versículo notável enfatiza, portanto, tanto a deidade do Senhor Jesus, como a Sua identidade distinta.

O ensino do Novo Testamento

Estas belas passagens do Velho Testamento são plenamente corroboradas no Novo Testamento, onde o assunto da deidade do nosso Senhor é constantemente e consistentemente destacado. Ele é descrito como “a imagem do Deus invisível” (Cl 1:15), “a expressa imagem da Sua [de Deus] Pessoa” (Hb 1:3). No Novo Testamento, o Espírito Santo usa duas palavras gregas quando descreve o Senhor Jesus como a “imagem de Deus”.

Eikon

Esta palavra é usada em Colossenses 1:15, como vimos acima, e em II Coríntios 4:4: “para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. Como a “imagem de Deus”, Cristo é “essencialmente e absolutamente a expressão perfeita e a representação de Deus. Como a ‘imagem do Deus invisível’, Cristo é a representação visível e a manifestação de Deus aos seres criados” (W. E. Vine). Compare Hebreus 10:1: “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas”.

A mesma palavra eikon ocorre em Mateus 22:20: “de quem é esta efígie [imagem] e esta inscrição?”; I Coríntios 11:7: “O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e a glória de Deus”; Apocalipse 13:15: “E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta”. Em cada caso, “imagem” não é a realidade; ela representa e manifesta a realidade. No caso de uma moeda, a imagem irá mudar no prosseguir do reino; mas Cristo não. Ele não envelhece nem degenera! O Senhor Jesus, porém, não simplesmente representa a realidade, Ele é Deus absoluta e essencialmente. Ele não é a semelhança do Deus invisível, mas a “imagem do Deus invisível”. Somente Ele manifestou a Deus. Veja João 1:18: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou”; João 14:9: “Quem Me vê a Mim vê o Pai”. NEle estão manifestos a própria natureza e atributos de Deus pelo Seu poder, onisciência, santidade e amor. Neste aspecto temos que distinguir entre Adão e Cristo. Adão foi feito à “imagem de Deus” (Gn 1:26-27), e os homens são “feitos à semelhança de Deus” (Tg 3:9). Em contraste, o Senhor Jesus não foi feito à “imagem de Deus” — Ele é Deus.

Charakter

Esta palavra é usada em Hebreus 1:3: “o qual sendo o resplendor da Sua glória, e a expressa imagem da Sua [de Deus] Pessoa”. Charakter, que vem de um verbo que significa “estampar”, ou “gravar”, originalmente significava o instrumento usado para estampar, que nós chamamos de “carimbo”, ou “molde”, mas veio a significar também a marca feita pelo instrumento. Assim como todas as características da impressão correspondem exatamente ao instrumento que os faz, também Cristo possui a exata impressão da natureza e caráter divinos (M. R. Vincent/ W. E. Vine). As palavras “expressa imagem da Sua Pessoa”, ou “expressão da Sua substância” (JND) enfatizam que todos os atributos de Deus pertencem a Ele; nada está faltando. Veja Colossenses 2:9: “Porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Em relação a isto, temos que notar a ligação com o versículo anterior: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo, porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Por um lado, temos o vazio da filosofia, e por outro temos a perfeita revelação de Deus em Cristo. No primeiro caso é uma especulação, e no segundo é uma revelação. Em Cristo habita toda a plenitude (inteireza) da Divindade absoluta, essencialmente e perfeitamente: a própria Personalidade de Deus. Como W. Kelly destaca: “a plenitude da Divindade nunca habitou no Pai corporalmente, nem no Espírito Santo, mas somente em Cristo”. Deus é conhecido por causa da encarnação. Assim, “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Não há nada de incerteza aqui. O Senhor Jesus é “Deus [que] se manifestou em carne” (I Tm 3:16). Ele é Aquele de quem João escreveu: “O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida” (I Jo 1:1).

A ênfase de João

Visto que, como notamos, João escreveu “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20:31), podemos esperar que o apóstolo coloque uma grande ênfase neste fato, e agora destacamos a maneira como ele trata este assunto sobremodo importante. Isto nos levará a considerar outras passagens do Novo Testamento que tratam de diferentes aspectos deste grande tema.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser eterno

Deus é eterno: “O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo estão os braços eternos” (Dt 33:27). João se refere à eternidade do Senhor Jesus no começo do Seu Evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1:1). A expressão “o Verbo” equivale de modo abreviado à expressão “Palavra do Senhor” do Velho Testamento. Ela revela o Deus invisível. Temos que notar rapidamente o seguinte:

Sua eternidade

“No princípio era o Verbo”. João não diz “desde o princípio”, mas “no princípio”. Ele estava eternamente presente. A expressão “no princípio” se refere a uma condição, e não a um começo.

Sua igualdade

“E o Verbo estava com Deus”. Estas palavras são explicadas como sendo uma “intercomunhão perpétua”. Ele estava e permanece “face a face com Deus”. Isto é enfatizado em Filipenses 2:6: “Que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”, onde a palavra “igual” está, realmente, no plural. O Senhor Jesus estava e está em igualdades com Deus. Em todos os aspectos e em cada detalhe, Ele corresponde à Deidade absoluta.

Sua Deidade

“E o Verbo era Deus.” Olhando novamente para Filipenses 2:6, temos que notar que embora Ele “tomou a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens” (v.7), Ele nunca “tomou sobre Si a forma de Deus” nem “foi feito à semelhança de Deus”. A palavra sendo, na expressão “sendo em forma de Deus”, enfatiza a Sua eterna deidade. W.E. Vine ressalta que o verbo “sendo” (huparcho) “evidencia a existência de uma pessoa anterior ao que é afirmado sobre ela”, e dá uma série de ilustrações, tiradas do Novo Testamento, incluindo Atos 2:30.

A palavra “forma” (morphe) “indica a forma especial ou característica de uma pessoa” (W.E. Vine). Vine cita Gifford (The Incarnation of Christ):

Morphe é propriamente a natureza ou essência … como subsistindo permanentemente no indivíduo, e retida pelo tempo que o indivíduo existe … morphe Theo (a ‘forma de Deus’) é a natureza Divina verdadeiramente e inseparavelmente subsistindo na Pessoa de Cristo”.

A palavra é usada novamente no v.7: “tomou a forma de servo”.

As palavras consideradas acima, “sendo em forma de Deus”, devem ser comparadas com Hebreus 1:3: “O qual sendo o resplendor da Sua glória”. Isto enfatiza Sua natureza essencial, independentemente de tempo. Ele é o esplendor, a excelente resplandecência da glória de Deus. Foi dito que “a glória divina que foi vista na Shekinah, a nuvem que repousava sobre o Tabernáculo, é agora plenamente manifestada em Cristo, a verdadeira Shekinah”. Embora “Deus falou aos pais pelos profetas” (onde havia uma distinção de identidade entre Deus e os Seus servos) Ele, nestes últimos dias, “falou-nos … pelo Filho” (onde não há distinção de natureza entre Deus e Seu Filho). JND diz: “falou-nos na pessoa do Seu Filho” (Hb 1:1-2).

Sua personalidade distinta

“Ele estava no princípio com Deus”. Embora o Senhor Jesus dissesse: “Eu e Meu Pai somos um” (Jo 10:30), Ele também disse: “Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai” (Jo 16:28).

João tem mais a dizer em relação a este aspecto da Deidade do Senhor. Em resposta à pergunta: “Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?”, o Senhor disse: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, Eu Sou”. Os judeus entenderam perfeitamente a Sua reivindicação. Ele afirmara a Sua Deidade absoluta. “Então pegaram em pedras para Lhe atirarem” (Jo 8:57-59). Novamente, tendo dito: “Eu e o Pai somos um”, os judeus disseram: “Não te apedrejamos por alguma boa obra, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo 10:30-33). Num cenário completamente diferente, é João quem registra as palavras do Senhor: “E agora, glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17:5). Ele havia glorificado o Pai na Terra (v. 4), e quem senão o Filho de Deus poderia reivindicar reciprocidade?

Outras passagens que enfatizam Sua eternidade

Há outras Escrituras que enfatizam a eternidade do nosso Senhor. Por exemplo, Miquéias 5:2: “de ti [Belém Efrata] me sairá O que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Isto contrasta maravilhosamente com a expressão: “os dias da Sua carne” (Hb 5:7). Quanto ao futuro Ele é chamado de o “Pai da Eternidade” (Is 9:6), e Hebreus 1:10-12 também indica Sua eternidade com as palavras: “Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas Tu és o mesmo, e os Teus anos não acabarão”.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser onipotente

João nos diz que “todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Isto deve ser comparado com Colossenses 1:16-17, onde a expressão “todas as coisas”, ou “tudo”, ocorre quatro vezes. O relacionamento entre o Senhor Jesus e a Criação, nestes versículos, foi apropriadamente resumida, como segue:

Ele é o Arquiteto da Criação (Cl 1:16a)

“Porque nEle [en] foram criadas todas as coisas, que há nos [en] céus e na [api, que significa ‘sobre’] terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades …” A preposição en pode ser traduzida: “porque em Ele foram criadas todas as coisas”. Ele projetou tudo na Criação! Portanto, Ele está obviamente fora da Criação, Ele é distinto da Criação e Ele é maior do que a Criação. As palavras “tronos … dominações … principados … potestades” evidentemente se referem, não a autoridades humanas, mas a autoridades invisíveis. Isto fica claro pelo fato delas serem mencionadas em relação à Criação. Veja também Efésios 6:12, onde “principados e potestades” certamente se referem ao mundo espiritual.

À Sua voz a Criação surgiu num instante,
Todos os anjos, toda hoste brilhante;
Tronos e domínios, estrelas em seu lugar,
Todas as ordens celestiais, miríades a brilhar!
(Caroline Maria Noel)

Ele é o Agente da Criação (Cl 1:16b)

“Tudo foi criado por Ele”. A preposição agora é dia, que significa “através de”. JND diz: “o poder instrumental”. Ele não apenas projetou o Universo; Ele o construiu. “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). “Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de Tuas mãos” (Hb 1:10).

Ele é o Alvo da Criação (Cl 1:16c)

“Tudo foi criado por Ele e para Ele”. Compare com Hebreus 2:10: “Aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”; Apocalipse 4:11: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade [ou, para o Teu prazer] são e foram criadas”. Podemos, portanto, estar absolutamente certos de que toda a Criação que “geme e está juntamente com dores de parto até agora” (Rm 8:22) há de, no final, cumprir o seu propósito, e proporcionar gozo e prazer ao seu Criador.

Ele é anterior à Criação (Cl 1:17a)

“E Ele é antes [pro] de todas as coisas”. Ele precede a Criação. Ele precede a Criação porque, ao contrário dela, não tem origem nem derivação. Ele não tem “princípio de dias nem fim de vida” (Hb 7:3).

Ele é o Administrador da Criação (Cl 1:17b)

“E todas as coisas subsistem por Ele”, ou, “Todas as coisas subsistem juntamente por Ele” (JND). A Criação “se mantém junta” pelo Seu poder. O Senhor Jesus sustenta “todas as coisas pela palavra do Seu poder” (Hb 1:3). Ele criou “todas as coisas” e Ele mantém “todas as coisas”. A lei da gravidade e todas as outras “leis” na Criação são Suas leis. Nada se move nem funciona sem Ele! Cristo é “o poder unificador da Criação, do contrário, o universo estaria em caos” (T. Bentley).

Os sinais em João

Não é surpreendente, portanto, que João chame a nossa atenção para o toque do Deus-Criador nos milagres (sinais) que Ele fez. Já no primeiro caso, transformando água em vinho, João observa: “Jesus principiou assim os Seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a Sua glória” (Jo 2:11). É notável que a primeira praga no Egito foi água transformada em sangue, enquanto que o primeiro sinal dado pelo Senhor Jesus foi água transformada em vinho. Devemos também notar o seguinte:

Aquele que disse: “Ajuntem-se as águas debaixo do céu num lugar” (Gn 1:9), veio andando sobre o mar para os Seus discípulos, embora o mar estivesse agitado por causa de um grande vento que assoprava (Jo 6:18-19). Mateus nos diz que “os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus” (Mt 14:33). Numa ocasião anterior, os discípulos disseram: “Que Homem é este, que até os ventos e o mar Lhe obedecem?” (Mt 8:27). O Criador do vento e das ondas estava presente!

Aquele que disse: “Povoem-se as águas de enxames de seres viventes” (Gn 1:20, ARA), disse também: “Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes” (Jo 21:6). Não é de se admirar que João dissesse: “É o Senhor”; ele evidentemente ainda se recordava de um milagre semelhante, ocorrido cerca de três anos e meio antes.

Aquele que disse: “Façamos o homem à nossa imagem”, e que “formou o homem do pó da terra” (Gn 1:26; 2:7), concedeu mobilidade a um homem “que, havia trinta e oito anos se achava enfermo” (Jo 5:5). Ele deu a vista a um homem que era “cego de nascença” (Jo 9:1) e deu vida a um homem de quem foi dito: “já cheira mal, pois é já de quatro dias” (Jo 11:39).

Muitas outras ilustrações da onipotência do Senhor como Criador são encontradas nos Evangelhos sinópticos. Por exemplo, aquele que disse: “Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a espécie” (Gn 1:11) disse à figueira: “Nunca mais coma alguém fruto de ti … e eles, passando pela manhã, viram que a figueira tinha se secado desde as raízes” (Mc 11:14, 20).

O Sábado

Em relação ao Seu trabalho devemos notar as palavras do Senhor: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também” (Jo 5:17). Deus não guardava o sábado, e o Senhor Jesus continuou o Seu trabalho. Os judeus responderam a isso: “ainda mais procuravam matá-Lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era o Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (Jo 5:18). Compare isto com Romanos 8:32: “nem mesmo a Seu próprio Filho poupou”. Israel é descrito como filho de Deus (Os 11:1; Ml 1:6), mas aqui é o “Seu próprio Pai”, enfatizando a Sua igualdade. Por isso Ele disse, logo em seguida: “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho como honram o Pai …” (Jo 5:22-23).

O Primogênito

Mas, tendo dito isto, há pessoas que insistem em dizer que embora o Senhor Jesus exercesse o Seu poder na Criação, Ele era, Ele próprio, um ser criado. Para apoiar isto, citam Colossenses 1:15: “O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. Esta afirmação é usada pelas “Testemunhas de Jeová” para apoiar sua afirmação blasfema de que a primeira criação de Deus foi o Seu Filho. É importante, portanto, entender corretamente a palavra “primogênito”. O Senhor Jesus é descrito como o “primogênito”, em cinco ocasiões no Novo Testamento, que são: Rm 8:24; Cl 1:15, 18; Hb 1:6; Ap 1:5. A palavra é usada no plural em Hebreus 12:23: “igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus”. No Velho Testamento o título “primogênito” não era sinônimo de “primeiro a nascer”. Veja por exemplo I Crônicas 26:10-11: “E de Hosa, dentre os filhos de Merari, foram filhos: Sinri o chefe (pois embora não fosse o primogênito, seu pai o constituiu chefe). Hilquias o segundo, Tebalias … Zacarias”. A posição de José ilustra isto. Veja I Crônicas 5:1-2: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois ele era o primogênito; mas porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que não foi contado na genealogia da primogenitura, porque Judá foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o soberano; porém a primogenitura foi de José)”. Podemos acrescentar os casos de Jacó e Esaú, e de Efraim e Manassés (Gn 48:5-20), e fica claro pelos acontecimentos nas famílias patriarcais que a palavra “primogênito” se referia ao cabeça, ou filho principal, na família. Ela descrevia o relacionamento singular entre o pai e o filho assim indicado. No Salmo 89:27, Davi é descrito como “meu primogênito mais elevado do que os reis da terra”. Ele é supremo entre os monarcas terrenos. Isto se aplica ainda muito mais ao Senhor Jesus, que é “da casa e família de Davi”! Veja Lucas 2:4.

As “Testemunhas de Jeová” também usam Apocalipse 3:14: “o princípio da criação de Deus”, para apoiar sua doutrina abominável de que Cristo é um ser criado. Entretanto, a palavra “princípio” significa “originador”. Ele não é, como eles sugerem, “o primeiro a ser criado”, mas o Criador! Ele é o “originador” da Criação. Como o “primogênito de toda a criação”, o Senhor Jesus tem tanto a primazia quanto a preeminência sobre a Criação.

Se o Senhor Jesus é Deus Ele precisa ser onisciente 

Samuel, entre outros no Velho Testamento, aprendeu que “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (I Sm 16:7), e Ana disse: “o Senhor é o Deus de conhecimento, e por Ele são as obras pesadas na balança” (I Sm 2:3), enfatizando a onisciência de Deus. O Senhor Jesus também demonstra essa característica, e é João quem enfatiza a Sua onisciência. 

Natanael perguntou: “De onde me conheces Tu?”, e quando o Senhor respondeu: “Antes que Filipe te chamasse te vi Eu, estando tu debaixo da figueira”, ele disse: “Rabi, Tu és o Filho de Deus; Tu és o Rei de Israel” (Jo 1:48-49). Novamente, em João 4:28-29: “Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?”. E de novo em João 11:14, Ele podia revelar o que acontecera em Betânia: “Lázaro está morto”.

A isto temos que acrescentar o domínio completo do Senhor Jesus sobre cada situação, Seu conhecimento perfeito de acontecimentos vindouros em Jerusalém, relativos à Sua morte e ressurreição, junto com Seu conhecimento perfeito de acontecimentos no então futuro distante, como demonstrado no Seu discurso no Monte das Oliveiras, tudo isso enfatiza a Sua onisciência.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser onipresente

O próprio Senhor Jesus enfatizou isto em João 14:23: “Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra, e Meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”.

A Sua onipresença é enfatizada em Mateus 18:20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Compare com Marcos 16:20: “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram”.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser absolutamente Santo

Ana disse: “Não há Santo como o Senhor” (I Sm 2:2), e o Senhor Jesus, tendo dito aos Seus acusadores: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”, continuou: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” (Jo 8:46). A palavra “convence”, ou, “acusa”, indica que eles não somente eram incapazes de realmente acusá-lO de pecado perante um tribunal, mas também que Ele não era convicto de pecado na Sua própria consciência. Obviamente, era impossível Sua consciência acusá-lO, pois “nEle não há pecado” (I Jo 3:5). Compare com Tiago 1:13: “Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”. É muito importante lembrar que a tentação no deserto não tinha por finalidade provar se o Salvador podia ou não pecar, mas era para demonstrar que Ele não podia pecar.

Se o Senhor Jesus é Deus, Suas palavras precisam ser únicas

João escreve: “Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos … Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não Lhe dá Deus o Espírito por medida” (Jo 3:31, 34). Portanto, não é surpreendente que os oficiais enviados para trazê-lo, explicaram seu fracasso com as palavras: “Nunca homem algum falou assim como este homem” (Jo 7:32, 46). Ele disse: “Eu falo do que vi junto de Meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai” (Jo 8:38).

Se o Senhor Jesus é Deus, a morte não pode retê-lO

Tomé, confrontado com as chagas mortais num corpo vivo, exclamou: “Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20:28). A evidência cabal da Deidade do Senhor é a Sua ressurreição, que vindicou cada reivindicação feita por Ele. Se Ele não fosse Deus, Ele ainda estaria no sepulcro. Mas Ele “nasceu (ou veio) da descendência de Davi segundo a carne [a palavra ‘nasceu’ aqui significa ‘entrar numa nova condição’], declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos” (Rm 1:3-4).

Os apóstolos fizeram disso o carimbo oficial da sua pregação. Veja Atos 2:24-36: “… ao qual Deus ressuscitou … a este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai … Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor … ”

Os cristãos hoje deveriam estar “aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo [‘nosso Grande Deus e Salvador Jesus Cristo’, JND]” (Tt 2:13). Nós reconhecemos com prazer a Sua Deidade enquanto aguardamos a Sua vinda, e Israel fará o mesmo na Sua subsequente manifestação: “Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos” (Is 25:9).

Na eternidade os santos hão de contemplar o seu Redentor e dizer com Paulo: o “Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim”. Talvez não seja fantasioso demais dizer que palavras semelhantes às bem conhecidas e apreciadas do seguinte hino serão ouvidas no Céu:

Fiel imagem do Infinito
Cuja essência oculta está;
Resplendor da eterna Luz,
O coração de Deus revelado.
Digno, ó Cordeiro de Deus, és Tu,
De que todo joelho se dobre diante de Ti.
(Josiah Condor)


Neste meio tempo, visto que Ele “é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (I Jo 5:20), devemos dar a Ele a nossa devoção total. Como o “verdadeiro Deus”, Ele não pode ter rival nos nossos corações e nas nossas vidas. Por isso João conclui sua I Epístola dizendo: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”.


© W. J. Watterson

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Tabelas sobre os juízes

Uma leitura rápida do livro de Juízes esconde o fato de que a metade dos trezentos e noventa anos descritos no livro se encontra no começo do cap. 6, quando começa a história de Gideão. O Espírito Santo, que inspirou quem escreveu o livro, gasta muito mais tempo falando dos últimos dois séculos do que dos primeiros dois (para cada página que descreve a primeira etapa, são usadas mais do que quatro para descrever a segunda!).

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Fatos e mitos sobre o lenço dobrado no túmulo do Senhor Jesus

Circula na Internet, desde aproximadamente 2007, uma história que eu gostaria que fosse verdadeira. Ela traz uma explicação extremamente interessante e instrutiva para um pequeno detalhe mencionado no Evangelho de João, citando uma suposta antiga tradição hebraica como fonte, e nos informando que o “lenço dobrado” era uma forma muito clara do Senhor Jesus dizer: “Eu voltarei!”

Não tenho duvida nenhuma de que a aplicação (isto é, a volta iminente do Senhor Jesus) é absolutamente bíblica e verdadeira. Não tenho dúvida nenhuma da sinceridade das pessoas que estão repassando esta história. E repito: eu gostaria que a “tradição hebraica” citada na história fosse verdadeira. Infelizmente, porém, não existe nenhuma indicação confiável de que tal tradição jamais existiu.

A história

Bem, comecemos pelo começo! A suposta tradição judaica é explicada da seguinte forma:
O lenço dobrado tem a ver com o Amo e o Servo, e todo menino Judeu conhecia essa tradição. Quando o Servo colocava a mesa de jantar para o seu Amo, ele buscava ter certeza em fazê-lo exatamente da maneira que seu Amo queria. A mesa era colocada ao gosto de seu Amo e, o Servo esperava fora da visão Dele, até que o mesmo terminasse a refeição. O Servo não podia se atrever nunca, a tocar na mesa antes que o Amo tivesse terminado a sua refeição. Diz a tradição que ao terminar a refeição, o Amo se levantava, limpava os dedos, a boca, a sua barba, e embolava o lenço e o jogava sobre a mesa. Naquele tempo o lenço embolado queria dizer: "Eu terminei". No entanto, se o Amo se levantasse e deixasse o lenço dobrado ao lado do prato, o Servo jamais ousaria tocar na mesa porque, o lenço dobrado queria dizer: "Eu voltarei!".
Pesquisando a expressão “lenço dobrado no tumulo de jesus” (no Google em 23 de Setembro de 2013), os primeiros doze resultados (de aproximadamente 19.300) contém um vídeo (com duração de 26 minutos, que não ouvi), dois textos questionando esta suposta tradição (nos blogs Rocha Ferida e A Tenda na Rocha), e nove textos repetindo-a. Um detalhe: destes nove textos, sete são uma cópia palavra por palavra um do outro (não sei quem é a fonte), e os outros dois, apesar de acrescentarem algumas observações no decorrer no seu texto, também citam a tradição exatamente da mesma forma.

O problema

Apesar da multiplicidade de relatos, ninguém consegue apresentar nenhuma citação antiga que comprove esta “tradição hebraica”. Todos os nove textos citados acima, que defendem esta tradição, usam a expressão: “todo menino Judeu conhecia essa tradição” (alguns trocam o “essa tradição” por “a tradição”, e um blog diz: “todos até um menino Judeu conhecia [sic] esta tradição”). Todos afirmam que a tradição era bem conhecida, mas nenhum deles informa uma fonte antiga que confirma isto. Se era uma tradição hebraica bem conhecida, onde descobrimos isto? Existe alguma fonte judaica que confirme esta tradição antiga?

O blog Rocha Ferida, citado acima, cita a opinião da Profª Aila, do fórum CATES (um centro dedicado “ao ensino e ao estudo das Escrituras em seu contexto original ... por meio de professores, rabinos, teólogos e líderes da Igreja no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e em Israel”), afirmando que “não há nada na cultura judaica sobre tal história de guardanapo embolado ou dobrado”.

O site “Truth or Fiction” (um site bem conceituado na Internet, que se dedica a pesquisar e confirmar, ou desmentir, histórias que circulam por meios eletrônicos), afirma que não há registros desta história antes de 2007, e que um rabino consultado por eles (alguém que é rabino ortodoxo, estudioso judaico, e que mora em Jerusalém) afirmou que nunca ouviu falar desta tradição judaica!

Conclusão

Devido à completa falta de comprovação história, e algumas afirmações de estudiosos da história judaica, não posso crer nesta suposta tradição hebraica. Repito o que disse na introdução: confio na honestidade de quem promove a história, concordo com a aplicação feita (a volta iminente do Senhor Jesus Cristo) e gostaria que a tradição citada fosse verdadeira. Mas devemos ter um compromisso com a verdade, não com aquilo que nos agrada.

Tudo o que escrevi acima não quer dizer que desconsidero a importância deste detalhe nas Escrituras. O texto que circula na Internet usa a seguinte expressão: “A Bíblia reserva um versículo inteiro para nos contar que o lenço fora dobrado cuidadosamente e colocado na cabeceira do túmulo de pedra”, sugerindo que o detalhe é importante. Concordo plenamente com esta sugestão, e defendo categoricamente a importância de prestarmos atenção em todos os detalhes revelados na Bíblia, crendo que ela não contém nenhum palavra supérflua. Sendo assim, certamente há uma razão importante para o Espírito Santo ter levado João a acrescentar este detalhe, mas creio que esta razão está mais relacionada com a prova que Pedro e João tiveram da ressurreição do Senhor (se alguém tivesse roubado o corpo, não teria tido cuidado de dobrar o lenço à parte) do que com qualquer mensagem em código sobre a volta do Senhor (algo que Ele sempre anunciou com toda a clareza).

Não me agrada desmentir algo que me agrada; mas espero que este texto sirva para ajudar alguém.



© W. J. Watterson

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O pão na Ceia deve ser sem fermento?

Existem cristãos que, desejosos de agradar a Deus em todos os detalhes da sua vida, entendem que a Ceia do Senhor só pode ser celebrada com pão sem fermento. Pelo que sei, este entendimento está baseado em dois argumentos:

i) O pão usado quando o Senhor instituiu a Ceia era certamente pão asmo (sem fermento), pois a Ceia foi instituída durante a celebração da Páscoa, e nesta festa não era permitido aos judeus comerem pão com fermento.

ii) O fermento é um símbolo muito claro do pecado na Bíblia — teríamos coragem de usar na Ceia um pão que tem uma figura do pecado na sua composição?

Baseado nos argumentos acima, poderíamos concordar que é necessário usar pão sem fermento na Ceia. Mas quando voltamos para a Palavra de Deus percebemos que esta preocupação (legítima e sincera, repito) é infundada; é ir além do que está escrito, e preocupar com algo que não preocupa o Senhor. Veja os detalhes deste assunto na Bíblia.

i) A palavra grega azumos ocorre nove vezes no Novo Testamento: Mateus 26:17; Marcos 14:1, 12; Lucas 22:1, 7; Atos 12:3; 20:6; I Coríntios 5:7, 8. Em todas estas referências o contexto é a Festa dos Pães Asmos (quer literalmente, quer figurativamente como em I Coríntios 5), nunca a Ceia.

ii) Todas as vezes que lemos do pão usado na Ceia, a palavra usada na Bíblia é artos, que simplesmente quer dizer “pão”.

Sem querer complicar o assunto, temos que encarar este fato: quando o Espírito Santo inspirou Mateus, Marcos, Lucas e Paulo a escrever sobre a Ceia, Ele, na Sua sabedoria divina, os guiou a escrever sobre o pão usando a palavra comum (artos), e não usando a palavra que descreve um pão sem fermento (azumos). Se fosse necessário usar pão sem fermento na Ceia, Ele teria escrito isto na Sua Palavra. Como Ele não o fez, entendemos que o tipo de pão usado não é importante.


© W. J. Watterson

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Tomé (poema)

Leia antes João 20:24-29



Disseram que viram meu Senhor [Jo 20:25]
Ah, como eu queria crer!
Mas ainda sinto forte a dor
De vê-Lo tanto ali sofrer [Lc 23:49]
    Naquela cruz.

Não pode ser; é um pesadelo!
Ainda me lembro dos gestos Seus,
E de como vim a conhecê-Lo;
Estar com Ele era estar com Deus
    Aqui na Terra.

Quanta coisa Ele nos ensinou!
Algumas vezes censurou-nos,
Mas a lição suprema que ficou
Foi o quanto Ele amou-nos [Jo 13:1]
    (Mesmo a mim!)

Como os demônios O temiam! [Mc 1:27, etc.]
E os doentes, vinham de todo canto. [Mc 1:32, etc.]
Até o vento e o mar Lhe obedeciam! [Mc 4:35-41]
(Quão grande foi o nosso espanto
    Aquela noite!)

Ah, como eu O amava…
Estava pronto a morrer por Ele, [Jo 11:16]
E mesmo enquanto O abandonava, [Mc 14:50]
Lá no jardim, queria estar com Ele.
    (Apesar do medo.)

Não é possível; é um pesadelo!
Ele não podia morrer! Não podia!
Ainda ouço o golpe seco do martelo, [Mt 27:35]
A zombaria imunda que dizia:
    “Desça da cruz!” [Mt 27:40]

Eu O vi morrer! Sim, eu vi! [Lc 23:49]
Eu ainda Te amo, Senhor,
Mas eu Te vi morrer! Eu vi!
E nem o tempo apagará a dor
    Que me oprime.

Disseram que viram meu Senhor…
Mas se eu não sentir o sinal dos cravos,
Sinais da Sua horrível dor;
Se não puser a mão no Seu lado
    Não crerei. [Jo 20:25]

Mas o que é isto? “Paz seja convosco [Jo 20:26]
É o meu Senhor! O mesmo que morreu!
Vejo Suas mãos, Seu lado, Seu rosto!
É o meu Deus! “Senhor meu, [Jo 20:28]
E Deus meu!

© W. J. Watterson — 10/05/2001

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Perdão (poema)

Como dói ser traído por um irmão!
Parece, até, que a luz do Sol se esconde,
Que a Lua chama as estrelas a brilhar
Mas nenhuma delas responde…

Mas não revides; ora pelo teu irmão,
E deixa Deus julgar seus atos.
Só Ele vê o coração,
Só Ele sabe bem os fatos.

Se Ele vir o teu amor,
O teu perdão de coração,
Conhecerás o Seu amor,
Terás de Deus consolação!

E tudo, então, estará em paz… 


© W. J. Watterson — 20/04/2003

domingo, 26 de maio de 2013

Guilherme Maxwell (poema)



“... hoje caiu em Israel um príncipe e um grande” (II Sm 3:38). Um pequeno tributo ao meu avô, falecido em Agosto de 2005; ele teria completado 96 anos em Dezembro daquele ano.





Deixou família e pátria, movido pelo amor;
Viveu em terra estranha, servindo ao seu Senhor;
Amava a cruz de Cristo, amava o Salvador;
Cuidava das ovelhas — um terno e bom pastor.
    Quantos exemplos!

Sua mala está desfeita*, findou-se toda a dor;
Ressoam lá na glória seus hinos de louvor;
Com gozo indescritível, sem medo ou dissabor,
Contempla a face santa do amado Salvador;
    Quanta alegria!

E nós, aqui na Terra, movidos pelo amor,
O seu lugar tomemos — sirvamos seu Senhor!
Que seu exemplo ilustre de amor ao Salvador
Nos torne corajosos até o Sol se por;
    Mas, ah! Senhor! Quantas saudades ...


© W. J. Watterson — 16/09/2005

* Durante a última década da sua vida, o Sr. Guilherme constantemente dizia que sua mala estava pronta para ir ao Céu. Hoje ele está lá, e sua mala, pronta durante tantos anos, já foi desfeita.

A espada embainhada (poema)

Louvemos ao servo fiel,
Que tinha espada mas não lutou;
Como o Senhor que, contra ódio cruel,
Suas legiões não chamou.

A espada embainhada maior mérito pode indicar
Do que daquele que luta com ferocidade;
“Melhor”, está escrito, “o ânimo controlar
Do que tomar uma cidade”.

Tua força é tua fraqueza, se abusá-la;
Tua coragem, covardia, se não domada;
Ter força para derrubar, e não usá-la,
É ter força duplicada!


Traduzido de “The undrawn sword”, de James M. S. Tait (do livro "Bells & Pomegranates")
© W. J. Watterson — 2009

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Problemas com números em Números (ii)

(Se desejar, leia a parte um)

A questão do número dos Levitas

Em Nm 3:39 lemos: “Todos os que foram contados dos levitas … todo o homem de um mês para cima, foram vinte e dois mil”. Há um pouco de dificuldade para entender este número, pois ele não concorda com os números das famílias dos Levitas dados nos vs. 22, 28 e 34 do mesmo capítulo. Se a família de Gérson teve sete mil e quinhentos contados, a família de Coate oito mil e seiscentos, e a de Merari seis mil e duzentos, o total deveria ser vinte dois mil e trezentos, e não vinte e dois mil. Por que a diferença?

Alguns sugerem que o valor de vinte e dois mil foi arredondado — mas o contexto não confirma isso. O v. 46 claramente afirma que o número dos primogênitos em Israel (que foi vinte e dois mil e duzentos e setenta e três) superou o número dos levitas em duzentos e setenta e três — essa diferença detalhada (duzentos e setenta e três) deixa claro que a contagem de vinte e dois mil é exata, e não arredondada.

Outros sugerem que houve um erro dos escribas que copiavam as Escrituras, e que o valor original dos Coatitas era realmente oito mil e trezentos, pois seria fácil confundir “três” com “seis” no Hebraico (veja ilustrações no final deste artigo). Mas é difícil imaginar que, com o zelo e cuidado que tinham ao copiar as Escrituras, os judeus teriam deixado de perceber uma contradição entre duas contagens na mesma páginas das Escrituras.

Prefiro a sugestão dada pelos antigos Rabinos, mencionada por Gill. No tratado Bekoroth  do Talmude (“Primogênitos” — Para ler esta citação online, procure “Bechoroth 5a” neste link), lemos de um general romano perguntando ao Rabino Johanan ben Zakai (30-90 a.D.): “No relato detalhado da numeração dos Levitas, encontramos que o total é vinte e dois mil e trezentos, mas na soma total só encontramos vinte e dois mil. Onde estão os trezentos?” A resposta do Rabino foi: “Os trezentos eram primogênitos, e um primogênito não pode redimir outro primogênito”. Uma sugestão simples, lógica e provável. A soma de todos os Levitas de um mês para cima foi feita para redimir os primogênitos das demais tribos de Israel. Todos estes Levitas somaram vinte e dois mil e trezentos, mas trezentos deles seriam, eles próprios, primogênitos, e “um primogênito não pode redimir outro primogênito”; portanto eles não são considerados na contagem total apresentada no v. 39.

É fácil verificar se esta sugestão faz sentido verificando se a proporção de primogênitos na tribo de Levi (trezentos) corresponde à proporção de primogênitos nas demais tribos de Israel. Ora, se havia vinte e dois mil e trezentos Levitas homens de um mês para cima, e trezentos destes eram primogênitos, então havia um primogênito para cada setenta e quatro homens, aproximadamente; e se havia vinte e dois mil e duzentos e setenta e três primogênitos nas demais tribos de Israel, aplicando a mesma relação (1/74) descobriremos que haveria quase um milhão e seiscentos e cinquenta mil homens (22.273 * 74 = 1.648.202) de um mês para cima nas demais tribos de Israel. Esse número faz sentido, pois lemos que havia seiscentos e um mil, quinhentos e cinquenta homens de vinte anos para cima em Israel. Estes números são, obviamente, apenas estimativas.

Resta um detalhe: se alguém acha que uma proporção de 1/74 é muito elevada para este contexto, devemos lembrar que a finalidade deste censo foi o resgate dos primogênitos, e é bem possível que foram contados apenas os primogênitos que nasceram após o Êxodo (pois os demais já haviam sido resgatados na primeira Páscoa). Contando todos os primogênitos em Israel, incluindo adultos, a proporção seria bem menor.
"Três" em Hebraico
"Seis" em Hebraico


© W. J. Watterson

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O poema da aliança Davídica

”Querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do Seu conselho aos herdeiros da promessa, Se interpôs com juramento” (Hb 6:17).

Em cinco ocasiões na história da humanidade, Deus “Se interpôs com juramento”, firmando uma aliança com os homens: com Noé (Gn 9), com Abraão (Gn 15, etc.), com Moisés (Êx 19, etc.), com Davi (II Sm 23, etc.), e a nova aliança feita por intermédio de Cristo (Jr 31, etc.).

Na aliança feita com Davi, em que promete um Príncipe para reinar em justiça, Deus inspirou Davi para escrever um poema apresentando a aliança. Abaixo, procuro demonstrar como deve ter sido a divisão em versos e estrofes do poema encontrado em II Samuel cap. 23.

1ª estrofe: o escritor do poema

Diz Davi, filho de Jessé,
    E diz o homem que foi levantado em altura,
O ungido do Deus de Jacó,
    E o suave em salmos de Israel.

2ª estrofe: o verdadeiro Autor do poema

O Espírito do Senhor falou por mim,
    E a Sua palavra está na minha boca.
Disse o Deus de Israel,
    A Rocha de Israel a mim me falou:

3ª estrofe: o Justo Rei

Haverá um justo que domine sobre os homens,
Que domine no temor de Deus.

4ª estrofe: o brilho do Seu reino

E será como a luz da manhã,
    Quando sai o Sol,
Da manhã sem nuvens,
    Quando pelo seu resplendor e pela chuva a erva brota da terra.

5ª estrofe: a certeza desta aliança

Ainda que a minha casa não seja tal para com Deus,
    Contudo estabeleceu comigo uma aliança eterna,
        Que em tudo será bem ordenada e guardada,
    Pois toda a minha salvação e todo o meu prazer está nEle,
Apesar de que ainda não o faz brotar.

6ª estrofe: o destino dos inimigos do Rei

Porém os filhos de Belial todos serão como os espinhos que se lançam fora,
    Porque não podem ser tocados com a mão.
    Mas qualquer que os tocar se armará de ferro e da haste de uma lança;
E a fogo serão totalmente queimados no mesmo lugar.”

Algumas explicações

Repare que as primeiro quatro estrofes são compostas de afirmações paralelas, em que cada verso é seguido por outro que expande a ideia apresentada no primeiro. É possível considerar cada um desses pares como um verso (assim as estrofes 1, 2 e 4 teriam apenas dois versos, e a estrofe 3 apenas um verso).

As últimas duas estrofes do poema estão na forma de quiasma. Na quinta estrofe, o primeiro e o último verso repetem a idéia de “ainda”, o segundo e o quarto verso falam do relacionamento entre Deus e Davi (Deus deu a Davi uma aliança eterna; Davi coloca em Deus toda a sua confiança e alegria), e o centro do quiasma é afirmação preciosa de que a aliança será ordenada e guardada. Na sexta estrofe, o primeiro e o último verso falam do destino dos filhos de Belial, enquanto que o segundo e o terceiro versos falam de tocar nestes filhos de Belial.

Graças sejam dadas a Deus pela promessa de que “haverá um Justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus”, e que esta promessa será bem ordenada e guardada. Aguardamos o dia quando “aparecerá no Céu o sinal do Filho do Homem … vindo sobre as nuvens do Céu, com poder e grande glória” (Mt 24:30) para estabelecer Seu reino milenar.

© W. J. Watterson

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Contrato do Casamento

Pesquisando sobre alianças em geral (e o casamento em particular), achei  um artigo no blog do Stephen Kanitz que mostra uma visão secular interessante sobre o casamento. Recomendo a leitura:

O Contrato de Casamento




© W. J. Watterson

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O que creio sobre a Trindade

A doutrina da Trindade é grande demais para nossas mentes finitas. Creio em um Deus, mas creio que este um Deus é três Pessoas Divinas. Aceito pela fé aquilo que a Palavra de Deus apresenta. Resumidamente, destaco três coisas sobre a Trindade:

  • a) Individualidade eterna — sempre houve três Pessoas. Deus sempre foi Triúno; nunca houve uma ocasião quando a Trindade resolveu se “desmembrar” em três Pessoas, ou algo parecido com isso.
  • b) Identidade eterna — estas três Pessoas sempre foram o Pai, o Filho e o Espírito Santo: o Pai é eternamente Pai, o Filho é eternamente Filho, e o Espírito Santo é eternamente Espírito. Alguns ensinam que o Senhor Se tornou o Filho de Deus quando foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria; mas a Bíblia ensina que Jesus Cristo é o Eterno Filho de Deus
  • c) Inter-relacionamentos eternos — estas três Pessoas sempre viveram em perfeito amor. Um amor verdadeiro precisa de três elementos: aquele que ama (a fonte), aquele que é amado (o alvo), e a forma de expressar este amor (o meio). Na Trindade, Deus o Pai é a fonte do amor divino, o Filho é o alvo, e o Espírito é o meio. Durante os tempos eternos sempre foi assim. Não devemos pensar, por um minuto sequer, que Deus sentiu-Se só na Sua divindade, e precisou criar o Universo para ter com que Se ocupar. Tal pensamento é, na verdade, blasfêmia — Deus “cumpre tudo em todos”, Deus é absoluto na Sua divindade, e goza de alegria perfeita consigo mesmo. Se o mundo nunca tivesse sido fundado, Deus continuaria existindo em perfeita satisfação, o Pai eternamente satisfeito em amar o Filho, o Espírito eternamente satisfeito em transmitir este amor, e o Filho eternamente satisfeito em receber tal amor.
Se tentarmos aplicar a lógica humana a esta verdade infinita, entraremos em contradição. Se esquecermos da individualidade e identidade eterna do Pai, do Filho e do Espírito Santo, acabaremos por confundir as Pessoas e Suas obras, e podemos cair em um dos erros abaixo:

  • a) Achar que cada Pessoa da Trindade é um terço de Deus. Não é. O Pai é Deus em toda a Sua essência, o Filho é Deus em toda a Sua essência, o Espírito Santo é Deus em toda a Sua essência.
  • b) Confundir as Suas responsabilidades, e achar que todos fazem as mesmas coisas. O Pai não é o Filho, o Filho não é o Espírito Santo, o Espírito Santo não é o Pai. É errado afirmar que o Pai morreu na cruz, ou orar ao Espírito Santo, e confusões semelhantes a estas.

Não podemos tentar fragmentar a Trindade, como se cada Pessoa divina fosse incompleta por Si só. Por outro lado, não podemos tentar misturar a Trindade, como se cada Pessoa divina não tivesse a Sua responsabilidade específica na obra da redenção.

Escrevi resumidamente, sem entrar em detalhes e sem tentar provar biblicamente o que afirmei. Escrevi para expor o que creio, não para ensinar ou convencer. Nos comentários, porém, terei prazer em tentar responder a qualquer dúvida que for levantada. Devido à complexidade do assunto, e à minha limitação, as respostas podem demorar um pouco para chegarem, mas comprometo-me a tentar responder qualquer questão que for proposta.

© W. J. Watterson