sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Tabelas sobre os juízes

Uma leitura rápida do livro de Juízes esconde o fato de que a metade dos trezentos e noventa anos descritos no livro se encontra no começo do cap. 6, quando começa a história de Gideão. O Espírito Santo, que inspirou quem escreveu o livro, gasta muito mais tempo falando dos últimos dois séculos do que dos primeiros dois (para cada página que descreve a primeira etapa, são usadas mais do que quatro para descrever a segunda!).

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Fatos e mitos sobre o lenço dobrado no túmulo do Senhor Jesus

Circula na Internet, desde aproximadamente 2007, uma história que eu gostaria que fosse verdadeira. Ela traz uma explicação extremamente interessante e instrutiva para um pequeno detalhe mencionado no Evangelho de João, citando uma suposta antiga tradição hebraica como fonte, e nos informando que o “lenço dobrado” era uma forma muito clara do Senhor Jesus dizer: “Eu voltarei!”

Não tenho duvida nenhuma de que a aplicação (isto é, a volta iminente do Senhor Jesus) é absolutamente bíblica e verdadeira. Não tenho dúvida nenhuma da sinceridade das pessoas que estão repassando esta história. E repito: eu gostaria que a “tradição hebraica” citada na história fosse verdadeira. Infelizmente, porém, não existe nenhuma indicação confiável de que tal tradição jamais existiu.

A história

Bem, comecemos pelo começo! A suposta tradição judaica é explicada da seguinte forma:
O lenço dobrado tem a ver com o Amo e o Servo, e todo menino Judeu conhecia essa tradição. Quando o Servo colocava a mesa de jantar para o seu Amo, ele buscava ter certeza em fazê-lo exatamente da maneira que seu Amo queria. A mesa era colocada ao gosto de seu Amo e, o Servo esperava fora da visão Dele, até que o mesmo terminasse a refeição. O Servo não podia se atrever nunca, a tocar na mesa antes que o Amo tivesse terminado a sua refeição. Diz a tradição que ao terminar a refeição, o Amo se levantava, limpava os dedos, a boca, a sua barba, e embolava o lenço e o jogava sobre a mesa. Naquele tempo o lenço embolado queria dizer: "Eu terminei". No entanto, se o Amo se levantasse e deixasse o lenço dobrado ao lado do prato, o Servo jamais ousaria tocar na mesa porque, o lenço dobrado queria dizer: "Eu voltarei!".
Pesquisando a expressão “lenço dobrado no tumulo de jesus” (no Google em 23 de Setembro de 2013), os primeiros doze resultados (de aproximadamente 19.300) contém um vídeo (com duração de 26 minutos, que não ouvi), dois textos questionando esta suposta tradição (nos blogs Rocha Ferida e A Tenda na Rocha), e nove textos repetindo-a. Um detalhe: destes nove textos, sete são uma cópia palavra por palavra um do outro (não sei quem é a fonte), e os outros dois, apesar de acrescentarem algumas observações no decorrer no seu texto, também citam a tradição exatamente da mesma forma.

O problema

Apesar da multiplicidade de relatos, ninguém consegue apresentar nenhuma citação antiga que comprove esta “tradição hebraica”. Todos os nove textos citados acima, que defendem esta tradição, usam a expressão: “todo menino Judeu conhecia essa tradição” (alguns trocam o “essa tradição” por “a tradição”, e um blog diz: “todos até um menino Judeu conhecia [sic] esta tradição”). Todos afirmam que a tradição era bem conhecida, mas nenhum deles informa uma fonte antiga que confirma isto. Se era uma tradição hebraica bem conhecida, onde descobrimos isto? Existe alguma fonte judaica que confirme esta tradição antiga?

O blog Rocha Ferida, citado acima, cita a opinião da Profª Aila, do fórum CATES (um centro dedicado “ao ensino e ao estudo das Escrituras em seu contexto original ... por meio de professores, rabinos, teólogos e líderes da Igreja no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e em Israel”), afirmando que “não há nada na cultura judaica sobre tal história de guardanapo embolado ou dobrado”.

O site “Truth or Fiction” (um site bem conceituado na Internet, que se dedica a pesquisar e confirmar, ou desmentir, histórias que circulam por meios eletrônicos), afirma que não há registros desta história antes de 2007, e que um rabino consultado por eles (alguém que é rabino ortodoxo, estudioso judaico, e que mora em Jerusalém) afirmou que nunca ouviu falar desta tradição judaica!

Conclusão

Devido à completa falta de comprovação história, e algumas afirmações de estudiosos da história judaica, não posso crer nesta suposta tradição hebraica. Repito o que disse na introdução: confio na honestidade de quem promove a história, concordo com a aplicação feita (a volta iminente do Senhor Jesus Cristo) e gostaria que a tradição citada fosse verdadeira. Mas devemos ter um compromisso com a verdade, não com aquilo que nos agrada.

Tudo o que escrevi acima não quer dizer que desconsidero a importância deste detalhe nas Escrituras. O texto que circula na Internet usa a seguinte expressão: “A Bíblia reserva um versículo inteiro para nos contar que o lenço fora dobrado cuidadosamente e colocado na cabeceira do túmulo de pedra”, sugerindo que o detalhe é importante. Concordo plenamente com esta sugestão, e defendo categoricamente a importância de prestarmos atenção em todos os detalhes revelados na Bíblia, crendo que ela não contém nenhum palavra supérflua. Sendo assim, certamente há uma razão importante para o Espírito Santo ter levado João a acrescentar este detalhe, mas creio que esta razão está mais relacionada com a prova que Pedro e João tiveram da ressurreição do Senhor (se alguém tivesse roubado o corpo, não teria tido cuidado de dobrar o lenço à parte) do que com qualquer mensagem em código sobre a volta do Senhor (algo que Ele sempre anunciou com toda a clareza).

Não me agrada desmentir algo que me agrada; mas espero que este texto sirva para ajudar alguém.



© W. J. Watterson